Fósseis de animais aquáticos indicam estresse climático há mais de 100 milhões de anos

26 de março de 2021 - 10:30

Larva de efêmera do grupo Hexagenitidae proveniente da escavação controlada

A pesquisa apresenta a primeira análise tafonômica de uma mortalidade em massa de insetos da Formação Crato, ou seja, conta a história dos eventos que ocorreram antes da fossilização dos organismos neste sítio paleontológico. Esse trabalho só pôde ser realizado graças à primeira escavação paleontológica controlada da Formação Crato, que foi realizada pela equipe do Laboratório de Paleontologia da Urca. “Esse trabalho foi exaustivo e levou mais de um ano para analisar camada por camada, algo que foi realizado pela primeira vez nesse importante depósito fossilífero e contou com o esforço e dedicação de uma grande equipe de professores e estudantes”, afirma o professor Álamo Saraiva, da Urca.

 

Escavação no Geossitio Pedra Cariri

Segundo a pesquisadora Arianny Storari, da Ufes, o achado provém de uma camada de calcário laminado, localmente conhecido como pedra cariri. As larvas de insetos encontradas pertencem ao grupo Ephemeroptera, conhecidos popularmente como efêmeras. “Essa localidade é muito rica em fósseis e, portanto, pequenos acúmulos de mais de três insetos próximos na mesma camada de rochas são comuns nesta unidade, mas acumulações de 40 insetos, como as apresentadas nesse estudo inédito, são muito raras no
registro fóssil”.

 

Segundo Saraiva, “A partir da pesquisa sobre eventos ambientais passados e como eles afetaram a fauna daquela época, os pesquisadores podem interpretar tendências recentes e até futuras”. E esta descoberta conta mais uma parte da história do que era o Ceará em um tempo muito distante. Segundo a professora da UFPE Flaviana Lima, que também participou da escavação que culminou neste achado, “como os fósseis de efêmeras de Hexagenitidae e os peixes Dastilbe representam uma fauna que viveu no paleolago da Formação Crato, os dados deles podem ser usados para entender melhor o contexto paleoambiental desta unidade”. “Assim como nos dias de hoje os insetos aquáticos são ótimos bioindicadores de qualidade de água, eles também conseguem nos ajudar a entender o ambiente pretérito, já que são sensíveis às variações do meio onde vivem”, complementa Storari.

Assinam o artigo Arianny P. Storari, Taissa Rodrigues, Renan A. M. Bantim, Flaviana J. Lima e Antônio Á. F. Saraiva.

Link: www.nature.com/articles/s41598-021-85953-5