Do incêndio a redescoberta: fóssil brasileiro perdido em tragédia do Museu Nacional é reencontrado e vira estrela de estudo internacional
29 de março de 2025 - 14:31
Em 2018, o Brasil e o mundo assistiram, estarrecidos, ao incêndio que destruiu o Museu Nacional no Rio de Janeiro. Milhares de peças históricas foram consumidas pelas chamas, entre elas, acreditava-se, um importante fóssil de camarão pré-histórico — Beurlenia araripensis.
Mas a ciência adora um bom enredo de reviravolta.
Seis anos depois, em 2024, durante o meticuloso trabalho de recuperação dos escombros, pesquisadores fizeram uma descoberta emocionante: o holótipo original, a “peça-chave” que deu nome à espécie, estava ali. Queimado, mas intacto o suficiente para voltar à vida científica.
E essa não foi a única boa notícia.
O estudo recém-publicado é também o primeiro a utilizar material fóssil repatriado da França, parte de uma carga ilegal de quase 1000 fósseis brasileiros que foi apreendida em um porto francês e, graças a ação conjunta de órgãos brasileiros e franceses, voltou ao Brasil em 2023.
Com base nesse material — extremamente bem preservado — e no holótipo resgatado das cinzas, os cientistas revisaram completamente a descrição da espécie, resolvendo dúvidas que perduravam desde os anos 1990. Beurlenia araripensis, encontrado na Formação Crato da Bacia do Araripe, viveu há cerca de 113 milhões de anos num ambiente lacustre tropical. Agora, com as novas análises, passa a ocupar um lugar mais definido na complexa árvore evolutiva dos crustáceos decápodes.
“É como se esse fóssil tivesse renascido. Uma espécie que foi descrita uma vez, quase desapareceu na tragédia, e agora retorna com uma nova identidade”, diz Daniel Lima, paleontólogo e um dos autores do estudo.
A pesquisa, publicada na revista internacional PalZ, é fruto da colaboração entre cientistas do Brasil e do Reino Unido, e fortalece o papel da paleontologia brasileira na proteção do seu patrimônio e na geração de conhecimento científico de ponta.